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Eu tive Burnout. E você?

Por: Dra. Katiúscia Fonseca

Foi após dirigir por oitenta quilómetros chorando e ouvindo a música “I see fire”do cantor Ed Sheeran, que eu percebi algo de errado: havia fogo em mim, queimando meu corpo e a minha mente. Percebi que todos os dias tinham sido iguais: eu sempre dirigia para o trabalho chorando e queimando física e emocionalmente. Nesse período trabalhava em três cidades, fazia um MBA, era voluntária em uma instituição e tinha um casamento e dois filhos.

Eu tive Burnout. E você?

Mesmo percebendo que algo não ia bem, eu não conseguia parar. Sou psicanalista e sentia-me impossibilitada de deixar o cuidado com os meus pacientes para cuidar de mim mesma. Os sintomas já existentes, tais como dores pelo corpo, angústia, sentimentos de opressão e solidão, passaram a ser mais constantes até chegarem ao ponto de ocasionar duas isquemias cerebrais e uma paragem cardiorrespiratória. Eu estava em um grau muito grave de Burnout.

Então eu tive que lidar com o diagnóstico, antes jamais admitido, de Burnout. Este era o resultado de anos de trabalho sem pausa, com total desrespeito aos limites do meu corpo e da minha mente.

O termo inglês significa “estar chamuscado, queimado, calcinado, como um fogo que se alastra por uma floresta”. Foi criado pelo psicanalista americano Herbert Freudenberg em 1974, para descrever o adoecimento que observou em si mesmo e em seus colegas de trabalho.

A síndroma de burnout ou esgotamento profissional, é reconhecido pela Organização Mundial de Saúde como doença ocupacional. É uma resposta complexa ao stress profissional prolongado ou crónico. Os sintomas são físicos, emocionais e comportamentais, sendo os mais comuns: fadiga, cansaço constante, distúrbios do sono, dores musculares e de cabeça, irritabilidade, alterações de humor e de memória, dificuldade de concentração, falta de apetite, depressão e perda de iniciativa e da libido além de dificuldades de relacionamento familiar e profissional, ausência de autonomia e de equilíbrio emocional.

Pesquisas mostram que as mulheres são mais atingidas pela síndroma que os homens, porque estas tendem a cuidar mais dos outros que de si mesmas, demorando mais a perceberem-se doentes. Segundo Cheryl Sandenberg, diretora do Facebook, e Adam Grant, professor de administração da Universidade da Pensilvânnia, em um artigo sobre mulher e trabalho, publicado no The New York Times, “elas se esquecem de seguir a orientação das aeromoças” — ou seja, colocar em si mesmas a máscara de oxigénio antes de ajudar os outros.

Eu me sentia exatamente assim: exausta física e emocionalmente, incapaz de colocar a minha própria máscara de oxigénio, mas disposta a coloca-la em meus pacientes. Diagnosticada, tive de aceitar os fatos novos e me reinventar como profissional.

A criatividade é um potente antídoto para o burnout. Aceitei que precisava de farmacoterapia, passei a ter mais sessões de análise, além de exercícios físicos, mudança completa dos habitos alimentares, meditação e uma mudança total na minha vida .

Um dia, uma amiga convidou-me para um workshop sobre o Feminino e a Mulher. Foi então que comecei a fazer parte de um grupo de mulheres que, durante um ano e meio, se propuseram a estudar, pesquisar e vivenciar o resgate do feminino. Sou grata a isso; É quando começa o meu processo de cura…

Se você está ou esteve com a síndroma de burnout, conte para nós a sua história e ajude outras pessoas a buscarem ajuda.


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